Estudos revelam diversidade da Serra dos Cocais, em Valinhos
04/12/2024
Depois do maior incêndio da história, animais foram flagrados na área que abrange ainda outros e municípios. Vídeo mostra imagens de câmeras trap espalhadas na Serra dos Cocais
Onça-parda, jaguatirica, gato-do-mato-do-sul, tatu, jacuaçu e outros animais foram flagrados por câmeras de monitoramento nos últimos meses na Serra dos Cocais, em Valinhos, no interior de São Paulo.
As imagens comprovam a resiliência da fauna local que volta a se recuperar após os piores incêndios da história do conjunto de montanhas, nas ocorrências registradas entre os meses de agosto e setembro de 2024.
“Ao todo mais de 300 hectares foram afetados, equivalente a mais de 300 campos de futebol. Durante os incêndios, o trabalho de varredura para estimar a perda da fauna e necessidade de resgate de animais feridos, teve como resultado um alto índice de mortalidade entre animais invertebrados e pequenos vertebrados, mas pegadas e vestígios de animais maiores seguindo para áreas de mata longe do fogo, o que indica que estes grupos conseguiram em sua grande maioria buscar abrigo seguro”, explica o biólogo Fábio Motta, que realiza trabalhos no local desde 2021.
Voluntário conta sobre combate ao incêndio na Serra dos Cocais “cada passo era um bicho morto”
Bryan Gouveia/Arquivo pessoal
De acordo com ele, a maior preocupação com os animais sobreviventes era de que, ao voltar as suas áreas de alimentação, estes pudessem ficar desorientados, se deslocando perdidos até casas e rodovias que cercam a serra.
Por conta disso, alimentos foram levados até fragmentos de mata não atingidos pelo fogo, mas, mesmo assim, foram registrados atropelamento de animais saindo da serra, como um gato-do-mato-do-sul (Leopardus guttulus) e um sauá (Callicebus nigrifrons).
“Agora na estação chuvosa, sem preocupação de que os incêndios voltem a acontecer por um tempo, um monitoramento da fauna está sendo realizado, para não apenas estimar os sobreviventes, mas compreender se voltaram a utilizar as áreas afetadas pelo fogo e promover a proteção de seus habitats”, reforça Motta.
Apesar da expectativa ser positiva e as imagens compraverem a circulação de uma fauna diversa, os esforços continuam para aumentar a proteção da área, que abrange aproximadamente 11 mil hectares, sendo 52% em Valinhos, 31% em Itatiba e 17% entre os municípios de Vinhedo e Louveira.
Ouriço-cacheiro registrado na Serra dos Cocais
Coendou spinosus
APA
Há anos especialistas tentam transformar a Serra dos Cocais em uma área de Área de Proteção Ambiental (APA). Agora, com a pressão pós-incêndios, a esperança é que os trâmites legais sejam concluídos.
“Com novos estudos e pesquisas a respeito da importância do monumento natural, o projeto de lei 713/2024 foi protocolado e tramita na Assembléia Legislativa para a criação da APA Estadual da Serra dos Cocais. O projeto conta até agora com a moção de apoio a aprovação das Câmaras Municipais de três dos quatro municípios, sendo eles Vinhedo, Valinhos e Itatiba e o projeto de moção está em andamento também em Louveira”, detalha o biólogo.
Diversidade da Serra dos Cocais
A Serra dos Cocais, segundo o pesquisador, não é apenas um conjunto de montanhas, mas um aglomerado de serras onde ocorre o encontro da Mata Atlântica e do Cerrado, além de resquícios de vegetação da Caatinga.
Sapo-martelo (Hypsiboas faber)
Boana faber
O local abrange 49 cavernas já protocoladas e tem um potencial de abastecimento de água, já que conta com muitos ribeirões que abastecem o rio Atibaia.
“Até o atual momento, já foram registradas mais de 200 espécies de vertebrados terrestres, incluindo mamíferos, aves, anfíbios e répteis, sendo que, muitas destas espécies já são apontadas pelo ICMBIO e MMA estão em listas de ameaça à extinção. Vale lembrar que esta diversidade tem potencial para ser muito maior, pois apenas 3% do território da Serra dos Cocais obteve estudos relacionados a amostragem da fauna”, finaliza.
Antes dos incêndios, havia uma resistência muito grande de parte dos proprietários de áreas dentro da Serra para autorização de pesquisas e levantamento. Entretanto, após os estragos do fogo ocorreu uma mudança de comportamento e, dos 70 hectares antes disponíveis para levantamento de dados, agora já ultrapassam os 500 hectares.
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